"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

15 de outubro de 2010

Lendas Guaraqueçabanas - parte 1 - "A maldição do carnaval"

pesquisa: Zé Muniz
Ilustração: Zé Eduardo de Souza

Muito se houve a respeito dessa história.
O primeiro que me contou foi o saudoso Eugeniano Ferreira (in Memoriam), dizendo ser pura verdade. Depois lí até algumas poesias feita sobre o fato e o Grupo Teatral Pirão do Mesmo chegou a encenar o texto “Fato ou Boato”, relatando a velha história da lenda da maldição... seria verdade???????
Guaraqueçaba de outrora
Desenho de Adailto Galdino (In memoriam)
Acervo: Glaci de Almeida Martins
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Bem, aconteceu lá pelos anos de 1936, em pleno carnaval.
        Enquanto em algumas casa dançavam animadíssimos fandangos, reunindo toda a vizinhança no “Intruido”, como chamavam aquelas três, quatro noites de fandango, alguns se uniam em blocos e percorriam as casas, fazendo a dança de “Puxar Cordão”, quando de mãos dadas, entravam por uma porta e saiam pela outra, levando consigo os familiares daquela casa, cantando animadíssimos versos/marchinhas e seguindo casa adiante...

        ... aconteceu que naquele carnaval, um bloco, dizem que com 07 pessoas, resolveu se vestir com figurinos imitando as vestes do padre e das freiras e usando adereços supondo os paramentos religiosos.

        A brincadeira do fandango seguia até a terça-feira pela meia noite, quando então os violeiros desafinavam suas violas, penduravam de boca para a parede e começava alí a quarta-feira-de-cinzas, e num período de respeito e completo silêncio permaneceriam durante toda a quaresma.
        O tal bloco, vestido como religioso, traziam na comissão de frente, uma cruz, pendurada nela dezenas de garrafas de cachaça, todas na qual abasteceram sua sede durante a madrugada inteira, e ultrapassaram quarta-feira-de-cinzas adentro.

        Por volta do meio dia, se encontrava o sacerdote em silêncio e meditação dentro da igreja do Bom Jesus. O silêncio logo é quebrado pelas animadíssimas marchas entoadas por aqueles foliões.

        O padre logo se levanta para pedir silêncio e os instruí-los a respeitar aquele dia em que a Igreja pede reflexão...

        ... mas ao ver aquelas pessoas, com vestes de sacerdote, de freiras, com imitações de cálice, seguindo uma cruz repleta de garrafas vazias de cachaça, não hesitou, amaldiçoou a cidade pela falta de respeito que permitiam acontecer.

        Nesta época era a região uma grande produtora de banana e arroz, levados principalmente ao Paraguai e Argentina, quando aportavam aqui, cerca de dois, três navios por mês e saiam carregadas dos produtos da terra e do mar, como por exemplo, o Danúbio Azul, que no ano de 1936, levou para Argentina 18 toneladas de camarão, segundo Osório Costa (in Memoriam). Apenas Laudemiro Ferreira, comerciante da época, tinha 22 lanchas a vela, usadas para abastecer os navios maiores que não atracavam no porto.      

O próprio Domingos Nascimento, em seu livro "Flora Têxtil do Paraná", sobre a produção em Guaraqueçaba, dizia:
"O embarque é pois facílimo, e o navio que entrar à barra de Paranaguá, dentro de 3 horas poderá fundear em Guarakessaba, seja qual for a sua tonelagem. Os bananaes bordam as praias e as margens dos rios em vastíssimas extensões, trepam os morros e se aprofundam pelos desfiladeiros, numa exhuberancia tal de producção, que está é presenctemente avaliada em 30 milhões de pés de bananeiras, sendo que do referido porto são exportados em navios estrangeiros para mais de 50 mil cachos de bananeiras por mez".

plantação de banana (comunidade do Rio Verde)
foto: Zé Muniz

        Depois da maldição, dizem que houve uma grande geada, coisa que nunca aconteceu nesta região, o suficiente para acabar com todas as plantações e parar a movimentação do porto de Guaraqueçaba.

        Não bastasse, logo aumentaria o fluxo no porto em Paranaguá, e com denúncias de contrabando, pois em Guaraqueçaba era limitada a fiscalização, prosperou em Paranaguá e estagnou em Guaraqueçaba. Em seguida acontece um êxodo para Paranaguá, afim da mão de obra no porto, que agora crescia e prosperava...

Reprodução/Direitos Reservados
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        Em Guaraqueçaba, diminuia a população, acabava significativamente a produção na terra, fechava os jornais, não mais aconteciam os anímadíssimos bailes, fechou o Clube de Tiro, o Clube Músico-Literário, o Clube de Matemática para Astronomia, o Club Regional do Milho,o Grêmio Feminil Myosotis e o Grêmio Recreativo Guarakessabense.

        E por muito tempo acreditou-se que tudo era culpa da maldição, inclusive, contam, que devido ao fato, inclusive o Bispo, sabendo da história, veio benzer a igreja, retirando a dita MALDIÇÃO.

Reprodução/Direitos Reservados
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Há algumas variantes a respeito da maldição do Padre, que em certa comunidade, por exemplo, um homem queria se casar na igreja e um padre que por ali passava, não quis realizar a cerimônia, visto que a comunidade era longe, de difícil acesso, pouco visitada por vigários e o casal já moravam juntos. Ao ter o pedido negado, o homem revoltou-se contra o padre e deferiu-lhe socos no rosto, interrompido logo pela comunidade que o segurou, mesmo assim machucando muito o pobre padre. Quando o padre foi embora, o povo reclamou muito com o rapaz pela atitude que fizera e ele extremamente arrependido, subiu o morro, entrou na mata e nunca mais voltou, desapareceu. Dizem ainda, que em Guaraqueçaba, certa vez trataram muito mal um sacerdote, que quando este ia embora, no mar em frente á cidade, gesticulou com suas mãos, como que impondo uma maldição, que muitos acreditam e também quando uma família de protestantes não lhe abriu as portas, deixando-o revoltado, depois deste caso, ele teria amaldiçoado a cidade. Outra história diz que, certa vês um forte vento noroeste virou o barco do padre, o lançando na água e o deixando muito bravo e teria sido este o motivo deste sacerdote ter amaldiçoado o vento e a cidade. Após sua morte foi enterrado na ilha chamada “Sepultura’’, tida como mal assombrada até hoje.

Ilustração Zé Eduardo de Souza
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Contatos:

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04 de junho de 2011
Após ler esta postagem, Antônio Silvestre Lopes "Vete", ao me encontrar disse que havia há algum tempo feito tal poesia, que segue abaixo, explicando a inverdade desta lenda, pois, segundo ele, ao conversar com vários moradores antigos, todos unânimes desconheciam o fato.
segue sua poesia:

FALSA HISTÓRIA
a poucos anos trás / numa revista famosa se leu
de uma tal missa sacrílega / que aqui há tempos ocorreu.

pesquisando esse famoso fato / das pessoas que aqui viveu
muito firmes nas palavras / caso, aqui não aconteceu.

tão irritadas todas ficaram / indignadas assim como eu
como inventaram tal história / que realmente nos comoveu.

essse artigo na revista / pecou muito quem o escreveu
que não foi por isso / que a cidade não desenvolveu.

Guaraqueçaba parou no tempo / por causa dos governantes seus
que para o norte desenvolviam / e do nosso povo esqueceu.

para não falarem verdades / mentem no que de fato sucedeu
que Guaraqueçaba muito querida / abençoada sempre será por Deus.
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13 de setembro de 2010

Thon Soá - Guaraqueçabano sim senhor!

Elton Luis do Nascimento, músico, compositor, poeta, cantor e violinista ...
... há, GUARAQUEÇABANO !

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foto : Divulgação ( Direitos Reservados )

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foto : Divulgação

Nascido em Guaraqueçaba no dia 30 de março de 1968, Elton Soares ou Thon Soá como é conhecido artisticamente, é neto de Seu Alcântara (In Memoriam), grande violeiro do fandango caiçara, e filho de Seu Beto, violeiro e sanfoneiro, natural da comunidade de Serra Negra.

Não negando essas origens, Thon Soá tem se destacado no cenário musical, com composições próprias e muitas delas retratando o ambiente em que crecera, o magnífico cenário da inspiradora e maravilhosa Guaraqueçaba.

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Seu Beto com a viola fandangueira, construída artesanalmente e que pertenceu ao seu pai, o violeiro Alcântara ( In memoriam ).
foto : Felipe Varanda

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" Guaraqueçaba " foi sua primeira composição, ainda no ano de 1986, e há 10 anos, vem se destacando no cenário musical paranaense, Thon Soá assumiu sua influência artística, baseado principalmente no conhecimento do seu pai, mas também por grandes nomes da MPB, tendo ainda estudado técnica vocal com Ana Cascardo no Conservatório de MPB em Curitiba .

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Apresentou -se, entre outros, no Programa da Meire, Programa "Alegria de Viver”, "Tempo de Viver", Programa William e Renan " Paixão do Brasil”, "Programa “Prosa e Viola" Programa "Coisas Nossas” da Rádio FM Educativa, Programa "Toda Tarde” TV Transamérica, Programa “Vitrine" no Canal 21, etc ...

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foto : Primeiro lugar – Festival da Copel  (divulgação)
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O seu primeiro disco "Superagüi", apresenta um contexto regional, com dez canções próprias, gravado no Estúdio Click e lançado em dezembro de 2005 no Hermes Bar, em Curitiba.

É Voluntário da Rede Sol - FCC, se apresentando em Clínicas, Hospitais, Casas de Recuperação e Repouso, Creches e escolas de Crianças Especiais.

Atua em bares, e eventos corporativos em todo Paraná desde do ano 2000.

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"Martin pescador"

Nem bem vai a lua \ batelão sai ao mar
No coração a esperança nua e crua \ convida o sol para pescar
Nas mãos sábios segredos, içam as velas \ vencendo o medo, o mar.

Acorda, pois já vai amanhecer o dia \ põe mais lenha lá na chapa
Pro café dona Maria.

Acorda, pois já vai amanhecer o dia \ seu Maneco sai do rancho
Pra voltar ao meio dia.

Luizão, bom pescador \ vai ao mar pra depois vir
Sua história assim contar \ se é mentira querem ouvir.

Martin Pescador \ Martin Pescador.

Miguelão, bom pescador \ sabe a hora de voltar
Traz o congo lá na cuia \ pra tua fome assim matar.

Terra vista, terra nossa \ tem sempre alguém pra avisar
Vem o mestre, o Seu Barbosa \ e o maior peixe deste mar.

Martin Pescador \ Martin Pescador.

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"Saudade de Guará "

Guará é saudade, da voz e violão
Guará é saudade, do sonho e da paixão.
um tempo que marcou, no coração menino
que como um passarinho, andava sempre
a procura de um ninho para pousar

Guará é saudade da turma do peito,
Da amizade sincera e sem preconceito
Guará é saudade de tudo que é lindo
do mar, da lua, do sol, e das estrelas

Guará é saudade infinita,
Saudade da menina bonita
É saudade de voce.

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THON SOÁ - GUARAQUEÇABANO , Sim senhor... – Caiçara!!!

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SITE OFICIAL :
http://www.thonsoa.com.br/


VIDEOS NO YOUTUBE :

Bebo Vinho : http://www.youtube.com/watch?v=VSqVDVSWEik

Nativo : http://www.youtube.com/watch?v=b_iD0UJ63Hs

Pedra Preciosa : http://www.youtube.com/watch?v=W_yLKSxL_Qw

Superagui : http://www.youtube.com/watch?v=qb_Osf73vOQ

Maria chamô Pitaco : http://www.youtube.com/watch?v=N6f2k_C9ryY

Bom Sentir : http://www.youtube.com/watch?v=ii2GGjLtCNo

Twitter:
http://twitter.com/thonsoa

MYSPACE :
http://www.myspace.com/thonsoa


REFERÊNCIAS e Contatos :
BEHR . Miguel Von. Guarakessaba Paraná -Brasil Passado - Presente -Futuro. São Paulo: Empresa das Artes , 1998.

HTTP: / PALCOMP3.COM/THONSOA /


Cd Superagui. Gravado em 2005 .

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TELEFONE PARA CONTATO :

(41) 9633-6644 ou ( 41 ) 8491-8644

e-Mail:
thonsoa@hotmail.com ou thonsoa@gmail.com

11 de setembro de 2010

COCORÉCOOOOOOOO... Canta Galo, anuncia um novo amanhã, novo dia, desperta todos para este alvorecer...

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Oficina de Formação de Atores no Teatro de Formas Animadas e Educação Ambiental
- 1999 -
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O espetáculo de teatro de bonecos “O Canto do Galo”, comemora seus 11 anos de ininterrupta circulação.

Albertino pescando
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depois da façanha, sei lá quantos quilos este peixe tinha, aparece o "Anjo feio do céu"...
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Zé Muniz, Maurício Galdino, Ivan Araújo e Edvaldo Soares.

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desde a fundação do Grupo Fâmulos de Bonifrates no ano de 1999, este espetáculo, o carro-chefe do grupo, vem sendo apresentado nos mais diversos lugares, desde escolas, praças, auditórios, comunidades caiçaras, indígenas, congresso, seminários, festivais, etc...

A sua criação está vinculada a oficina de Formação de Atores no Teatro de Formas Animadas e Educação ambiental, que no ano de 1999 trouxe a Guaraqueçaba o ator-bonequeiro Itaércio Rocha e 121 horas depois, após longas pesquisas, confecção de bonecos, montagem de adereços de cenas, ensaios, resultou neste espetáculo.

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apresentação em Barra de Ararapira.
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Qual não foi nossa surpresa ao ver a casa cheia na estréia, pois na mesma data havia um outro espetáculo apresentando-se na cidade, no mesmo horário. O público de Guaraqueçaba nunca nos abandonou.

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apresentação na comunidade quilombola de Rio Verde

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em Ilha do Mel
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Desde a estréia já atuaram no “Canto do Galo” Juninho “Cabelo”, Wagner Amorim, Wagner Martins, Rafael Sarubbi, Ivan Araújo, Zé Muniz, Leandro Diéguiz, Marcelo Mendonça, Dudu Schotten, Mariélli Mendonça, Jackson Colombes, Joanil Martins Júnior, Maurício Galdino, Antônio Silvestre Neto, Joni Lopes e Edvaldo Soares. Hoje está renovando a atuação com Duílio Martins, Alisson Costa e Michel Martins, além de Zé Muniz.


Marcelo Mendonça, Leandro Diéguiz, Itaércio Rocha, Zé Muniz e Dudu Schotten.

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De lá pra cá, o número de bonequeiros que atuaram no elenco também cresceu, alguns foram residir em outras cidades, outros ainda se encontram em Guaraqueçaba, e mantendo novas formações, em torno do espetáculo.

painel d espetáculo em evento em Faxinal do Céu.

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O espetáculo já foi apresentado em Guaraqueçaba (Superagui, Ilha das Peças, Ilha Rasa, Barra de Ararapira, Bertioga, Barbado, Ilha das Gamelas, Massarapuã, Tagaçaba, Rio Verde), Paranaguá (Ilha dos Valadares, Ilha do Mel, Ponta de Ubá e Ilha da Cotinga), Antonina, Guaratuba, Curitiba, São José dos Pinhais, Quatro Barras, Campo Largo, Piraquara, Pinhais, Araucária, Faxinal do Céu, Irati, Fernandes Pinheiro, Toledo, Cascavel e Ponta Grossa, fazendo parte de festivais, entre eles, o Festival Espetacular de Teatro de Bonecos, Festival de Inverno, FERA, FAEP, Viva o Verão, Festival Folclórico de Juventude, Festival de Folclore, Seminário Vem Ser Cidadão, Semana de Meio Ambiente, Semana de Vacinação, etc...



abertura do espetáculo com a Bandeira do Divino Espírito Santo
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“Impossível estimar o número de público que já assistiu o espetáculo “O Canto do Galo”, mas ainda hoje muitas pessoas lembram de algumas cenas; já ouvi crianças cantando algumas das musiquinhas da peça; Bem posso dizer que muito nos divertimos nele, talvez bem mais do que o público, pois sempre o fizemos por diversão, brincadeira; uma brincadeira profissional”. Zé Muniz.

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Seu Albertino Barbosa e seu badejão de 192 quilos (não é mentira de pescador, viu).

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O novo elenco: Alisson Costa, Duílio Miranda, Jackson Colombes e Zé Muniz, continua propondo o espetáculo.

INTERESSADOS:

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Dudu Schotten, Zé Muniz, Leandro Diéguiz, Jackson Colombes e Marcelo Mendonça - alguns não residem mais em Guaraqueçaba - O DESAFIO - a cada ano que passa, formar novo elenco para a continuidade do espetáculo.

7 de agosto de 2010

"Tá perdendo companheiro" - Um pouco da vida de mestre Leonildo Pereira.

"Em nome de Deus começo
Com Deus quero começá
Sô muito chegado a Deus
Sem Deus não posso passá!”
(Verso tradicional do Fandango Caiçara).
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VEM COMIGO
foto: Guto Lelo

Leonildo Fidélis Pereira nasceu em Araçaúba, no município de Cananéia, em 1942, filho de Vicente José Pereira e Maria Augusta Pereira. Com apenas 15 dias foi com a família morar em Rio dos Patos, de onde só saiu recentemente para residir em Abacateiro, localidade onde se encontra com alguns filhos e filhas ao lado. Neste local possui uma “casa de fandango”, onde recebe amigos e visitantes, demonstrando sua cultura, vendendo seus instrumentos, contando histórias e possibilitando um baile de fandango... AMANHECE!

Abacateiro
foto: Guto Lelo
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Sobre Fandango:
“é uma coisa muito dos antigos. É coisa do meu avô já, daqui do nosso lugar mesmo. De repente chegava por lá um ou outro “viu o fandango é dos estrangeiros” e eu dizia “já mudou de novo?”, sempre tinha um dizendo que é de um e que é de outro. O Fandango é nosso gente, toda a verdade dizer, que é a nossa cultura gente”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
 
foto: Guto lelo

“não tinha hora de descanso, se seis ficava prá lá, ficavam dançando e você via essa moçada, ou dez, porque tinha quarenta pessoas, quarenta homens naquele tempo de trabalho. Então, não acabava o fandango, até oito horas. Quando o patrão era bom, e que o povo gostava também, quando que ia amanhecendo ele fechava todas as portas, para que não visse o claro do dia, para o povo dançar é mais. Então quando eles já tavam cansados, ele abria a porta, era o quê? Oito, nove horas do dia. O fandango tava ali, mas o fandango era bonito! (...)”.
IN: PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana.
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Rio dos Patos
foto: Macaxeira

Família Pereira em Rio dos Patos
foto: Macaxeira
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"No tempo em que estive no Saco do Rita, o único fandango batido com os tamancos que presenciei aconteceu na casa de seu Leonildo Pereira, no sítio de Abacateiro, localizado a uns trinta minutos de canoa à frente do Saco do Rita. Havia muito tempo que não se batia fandango na casa de seu Leonildo. Por ocasião da passagem por ali da expedição “Viagem de Canoa” organizou-se um fandango para os visitantes conhecerem os “costumes da região”. Seu Leonildo, juntamente com sua família, recebeu por volta de dezoito pessoas em sua casa como se fossem amigos de muito tempo, tocou rabeca, cantou e contou várias histórias. A noite avançou madrugada adentro em volta da fogueira, com seu Leonildo pronunciando várias sentenças, entre elas: “pois é cunhado (forma que usa para se referir aos camaradas), nós aqui somos tudo filho de Deus, nós temos alegria em receber gente de fora, porque aqui ninguém briga com ninguém, nós somos que nem um sítio, onde um quer ajudar o outro. Nós se acabamos, mas nosso fandango vai e não se acaba”.
IN: MARTINS, Patrícia.
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“...Eu tô plantando pros outros aprenderem, né...Eu sô violeiro. Tô correndo atrás desse prejuízo que foi deixado. Então tô resgatando”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
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na entrega da documentação que pede o reconhecimento do
Fandango Caiçara como PatrimônioImaterial do Brasil
foto: II Encontro de fandango
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Capa do Livro Museu Vivo do Fandango
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“Uma histórinha pro povo...”
“isso era uma história antiga, né? Isso era um cara que chego num baile, num fandango. Meus avô que contavam que o cara chego num fandango, lá, e chego com uma viola bonita pra caramba. E bonitão, cheio de chapéu, e o violeiro muito fraco, meteu-se no meio daqueles dois violeiros lá.: “Deixe pra mim que eu vou tocá minha viola”. Com aquele viola dele tudo cheia de brilho. E vai canta, canta, canta. Depois cansou: “eu vou tira aquela menina pra dançá”. A mais bonita que tinha no meio da sala. Foi pra lá e já começo a gostá dela. Vai pra lá e vem prá cá, vai pra lá e vem prá cá, quando o galo cantou ele disse assim: “opa, ta na hora de um ir embora, quer ir comigo, se não quiser você vai ficar, porque eu já vou indo embora”. Quando os dois violeiros pegaram a viola e continuaram lá o fandango, dero aquele Crendios Padre, lá que, um verso de fandango que escureceu a casa e ele sumiu. Olharo no meio da casa tava uma casca de jarová desse ai... ele tinha o pé redondo, não podia mostrá, não podia. Ele ficava só escondendo o pé, pra ninguém vê o pé dele, pois ele tinha o pé redondo, pois era o diabo”.
IN: MARCHI, Lia & SAENGER, Juliana & CORRÊA, Roberto.
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São Gonçalo de Amarante - Padroeiro dos Violeiros
foto: II Encontro de fandango

Sobre São Gonçalo:
“È Sexta-Feira de tempo de rebojo e sábado vai ter colheita de arroz. O dono faz a promessa á São Gonçalo, pro tempo melhorá. No dia, trabalha e vai pra casa toma banho e depois a primeira moda da brincadeira da noite é pra São Gonçalo, pra pagar a promessa. Então é feito um altar e quando não tem a imagem do santo, pode colocar um vaso de flor. Daí dança valsando, não de par, até o altar, faz meio que ajoelhá pode beijar a flor e volta, sem dar as costa pro altar. Primeiro o dono da casa, depois pode ir os outros, um por vez ou tudo junto em fila”.
IN: MUNIZ, José Carlos.
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foto: Guto Lelo

Léo, como também é chamado ou Mestre Leonildo é um exímio construtor de instrumentos, assim como muitos da Família Pereira, detentor do conhecimento acerca do Fandango Caiçara, afinação, toques, tamanqueados, multirões, e outras tradições como São Gonçalo, Romaria do Divino Espírito Santo, Terço-Cantado... por isso é chamado de “professor” pelos fandangueiros e “mestre” pelos pesquisadores e admiradores de sua cultura.
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“segundo Leonildo, a denominação de mestre no fandango é feita pelos próprios fandangueiros, como relata: "É... acontece o seguinte... eu é... falavam mestre pra mim..e já correu... é... já do meu pai que correu isso aí.. porque eu fiquei...eu era mais curioso em casa da família, eu era mais curioso, tudo era eu, tudo era eu. Eu passava Pereira, era patrão do dia, passava a cuidar de noite que eu era responsável, eu cuidava do povo, cuidava da comida, com os negócios do dia...então eu passei cedinho aqui, depois passei pra... é... meu tio passou e disse assim ó... pra... olha, você vai ser madrinha dela... então pra mim era coisa séria, porque eu era o primeiro da... Então embora há pouco tempo já, eu passei por mestre, não por mim, foi pelo povo. O povo que me chamou.
IN: OLIVEIRA, Rogério Massarotto.
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foto: Macaxeira
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No ano 2000, esteve em Curitiba, pela primeira vez, levando Fandango ao evento “Fandango Subindo a Serra”, de Maria de Lourdes da Silva Brito e de lá pra cá, incontáveis foram as vezes em que teve que sair do Abacateiro, seja para bailes, oficinas, palestras ou apresentações em Guaraqueçaba, Paranaguá, Cananéia, Barra de Ararapira, Superagui, Curitiba, Campo Largo, Maringá, Rio de Janeiro, ... Até o momento são participações também nos seguintes materiais:
CD:
“Viola Fandangueira”, lançado em 2002, em conjunto com o Grupo Viola Quebrada. “Fandango de Multirão”, lançado em 2003, onde toca com Zé Pereira, Pedro Pereira, Nilo Pereira, Agnardo Pereira e Vicente França.
“Museu Vivo do Fandango”, lançado em 2008, onde toca um “duelo de Rabecas”, juntamente com Zé Pereira (faixa 01), “São Gonçalo” (faixa 11), Dandão “Eu tenho meu pé de rosa”, com Nilo Pereira (faixa 23) e um “Solo de Rabeca” (faixa 33).

LIVROS:
AGUIAR. Carlos Roberto Zanello. Fandango do Paraná: Olhares. Curitiba, 2005.
BRITO, Maria de Loudes da Silva & RANDO, José Augusto Gemba. Fandango de Mutirão. Curitiba: Gráfica Mileart, 2003.
MARCHI, Lia & SAENGER, Juliana & CORRÊA, Roberto (org). Tocadores: Homem, terra, música e cordas. Curitiba: Olaria, 2002.
PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana. Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.

DVD:
TOCADORES LITORAL SUL. Direção de Lia Marchi. Curitiba. 2003.
TERRA DE TODAS AS GENTES. PROVOPAR. Curitiba. 2005.
MUSEU VIVO DO FANDANGO. Caburé. Rio de Janeiro. 2006.
ROMARIA DO ESPÍRITO SANTO A FÉ QUE MOVE A TRADIÇÃO. Mandicuéra Associação de Cultura Popular. Paranaguá. 2007.
TEU CANTO DE PRAIA. Direção Manuela Sobral. 2009.
CAIÇARA. Direção Geraldo Pioli. 2009.

TESES / DISSERTAÇÕES / MONOGRAFIAS e PESQUISAS
1. OLIVEIRA, Rogério Massarotto. A Cultura do Fandango no litoral do Paraná e suas relações entre trabalho, cultura popular e lazer na sociedade capitalista. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Física. Florianópolis/SC, 2005.
2. MARTINS, Patrícia. Um divertimento trabalhado Prestígios e Rivalidades no Fazer Fandango da ilha dos Valadares. Dissertação de mestrado apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Antropologia Social. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. CURITIBA, 2006.
3. MUNIZ, José Carlos. Fandango Na Alma de Minha Guaraqueçaba. Obra inédita. Guaraqueçaba. do Autor.

SITE:
1. http://festivaldecultura.art.br/noticias/rotas-encontros-e-perspectivas/
2. http://www.rabeca.com.br/site/interna.php?url=artesaos
3. http://sobre-posicaocaicara.blogspot.com/2009/01/o-projeto_30.html
4. http://fandangodoparana.blogspot.com/

Sobre Posição Caiçara
foto: GutoLelo
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No ano de 2010, a partir de iniciativa de Leandro Diéguiz, Leonildo Pereira foi selecionado a receber o Prêmio Culturas Populares 2009 Mestre Dona Izabel – artesã ceramista do Vale do Jequitinhonha/MG, concedido pelo Ministério da Cultura / Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural.
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A PRESNTE POSTAGEM ESTÁ ABERTA A NOVAS INFORMAÇÕES A RESPEITO DE NOSSO MESTRE LEONILDO PEREIRA. BASTA INSERIR COMO MENSAGEM-DEPOIMENTO.
OBRIGADO.

19 de julho de 2010

Mestre Faustino... o último Mestre da Bandeira de Guaraqueçaba

O Fandango Caiçara perdeu um dos mais exemplares MESTRES.
homem simples, humilde, muito fervoroso em sua crença e fé no Divino Espirito Santo, violeiro, rabequeiro, mestre de Fandango e de Romaria...
Faleceu neste dia 18 de julho o Mestre Faustino (Fausto Mendonça).
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nascer do sol em Vila Fátima, onde Faustino morava
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Fausto Mendonça nasceu no Varadouro em 1917, filho de José Vítor Mendonça e Teresa Costa. Há cerca de 65 anos residia na comunidade de Vila Fátima, onde criou a família juntamente com a esposa Dona Cida (In Memoriam), entre eles, Zé Norberto (pai do violeiro Marcelinho), Amilton, grande rabequeiro e João Mendonça, grande violeiro, dons herdados do grande mestre e pai, Faustino, como carinhosamente era chamado.
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com sua rabeca no "ranchinho", ali nos deliciamos muitas vezes ao som deste mágico instrumento, quando tocado pelas mãos deste Mestre.
 
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Como me disse certa vez: "na hora de bolar, inventar verso pra Romaria, não se preocupe, que o Divino ensina".
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Faustino era o último folião da Romaria do Divino Espírito Santo de Guaraqueçaba, época em que acompanhava a equipe do pai como Tipe e alguns anos depois assumiu a posição de Mestre, levando a Bandeira do Espírito Santo às comunidades de Ilha Rasa, Tagaçaba, Serra Negra, Itaqui, Guaraqueçaba... saiu também como Mestre da Bandeira de São Luiz de Ariri e de São José de Ararapira.
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Quando era Mestre da Romaria de Guaraqueçaba presenciou a seguinte história, que me narrou:

“certa vez, a Romaria estava chegando numa casa e a dona desta, saia para colher arroz e mesmo vendo que se aproximavam não deixou o trabalho, dando as costas para a Romaria, indo para a roça. Os foliões se aproximaram da casa e como ninguém veio buscar a Bandeira, prosseguiram a Romaria. Após terem visitados as casas daquela comunidade, no retorno, ao se aproximarem daquela casa que não os recebera, foram convidados a entrar, por parentes daquela senhora que não os recebeu, pois esta estava enferma e queria pagar a promessa que fizera. Dias antes, quando a Romaria passou e ela foi pra roça colher arroz, caiu um grão de arroz em seus olhos e ela ficou cega, prometendo ao Divino Espírito Santo, que quando retornasse aquela Romaria, passando em sua casa, iria recebê-lo. Cumprindo, milagrosamente recuperou a visão”.
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Faustino, no ano de 2008, recebeu o Prêmio Culturas Populares Mestre Humberto Maracanã da Secretaria da Diversidade Cultural/Ministério da Cultura.
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“fandango de Intruido / semana de brincadeira / que começa no domingo / termina segunda-feira / essa modinha aprendi / lá no porto da Ribeira / no cravo da laranjeira”.
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No mês de janeiro de 2010, fomos, juntamente com a família até Vila Fátima, comemorar os 94 anos de Seus Faustino. Rabeca e viola afinadas, logo após o canto do parabéns, o fandango tomou conta da festa, onde pudemos ser presenteados pelo Mestre Faustino, tocando viola, tocando rabeca e cantando muito fandango. Foram 03 dias de muito aprendizado.
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Em recente passagem pela Vila Fátima, fui até sua casa para vê-lo. Amiltom me disse que Faustino se encontrava deitado, adoentado que estava naqueles últimos dias. Resolvi não incomodá-lo. Mal sabia que era a última oportunidade que teria de abraçá-lo e novamente agradecer por tudo que nos ensinou.


MESTRE FAUSTINO – obrigado...


Fausto e Cida Mendonça

REFERENCIA:


MUNIZ, José Carlos. Fandango: Na Alma de Minha Guaraqueçaba. Obra inédita. Do autor.

MUNIZ, José Carlos. Uma Romaria do Espírito Santo. Obra inédita. Do autor.

PIMENTEL, Alexandre. GRAMANI, Daniella. CORRÊA, Joana. Museu Vivo do Fandango. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2006.

DVD:

TOCADORES Divino Folia, Festa, Tradição e Fé no litoral do Paraná. Direção Lia Marchi e Maurício Osaki. Curitiba. 2008.

CD:

Museu Vivo do Fandango. Faustino toca e canta na faixa número 12 ("Passeia meu bem passeia").

19 de abril de 2010

M'BYÁ GUARANI - Tekoa Kuaray Guata Porã (Cerco Grande)

M’BYÁ GUARANI
por Zé Muniz

Neste dia 06 de abril de 2010, eu e Rodrigo, ambos bolsistas do Programa Universidade Sem Fronteiras fomos visitar, apesar do tempo ruim, o Cerco Grande, onde hoje localiza-se um TEKOÁ, uma comunidade com indígenas M’byá Guarani.
Fomos avaliar as condições após a informação que aqueles Guaranis pediam ajuda e contribuição com alimentos. Rodrigo também precisava conversar com o Pajé Faustino, pois necessitamos de conhecimentos da astronomia e constelações guarani, a repassar aos professores do colégio de Guaraqueçaba. Parte integrante do projeto que desenvolvemos.

Cerco Grande (2000)


Os Guaranis, conseguem "ser Guarani", viver de acordo com sua cultura na TEKOA. Em Guaraqueçaba, hoje se encontram na Tekoa Kuarai Guata Porã, local que conhecemos como Cerco Grande.
Na chegada, após desembarcar num porto muito escorregadio, com uma desativada ponte, madeira já em estado de podridão, encontramos o cacique Valdinei, com uma linha na mão, um pote com alguns carangueijinhos que acabara de “tirar” na mangue, fumando o “Petanguá” (cachimbo), seguindo a pescar e assim suprir as necessidades de sua família.

Cerco Grande (2000)
Cerco Grande (2000)

Valdine mora na primeira casa, no primeiro porto, distante dos demais M’byás do Cerco Grande. É o cacique, o responsável pela comunidade e fica “preocupado”, como diz, em saber das dificuldades e problemas enfrentados pela comunidade e pouco pode fazer para resolver.

Esta comunidade está sem embarcação, desde que a que usam afundou nas baias de Paranaguá. Então sem poder viajar, vender seus artesanatos e assim poderem suprir as necessidades das famílias com a alimentação.

Valdinei nos acompanha até as outras moradias, dizendo haver ali 12 famílias e cerca de 40 pessoas.

Para não ficar esquecido ou abandonado, possui um gerador que, como diz, foi comprado pelo fato de possuir um telefone celular e por não poder recarregar a bateria, o faz usando o gerador. Lamenta também estar com falta de combustível para alimentar a máquina. Além das incansáveis tentativas via telefonia, diz ter procurado o escritório da FUNAI em Paranaguá, mas em tentativas sem sucesso, pois diz não ter encontrado o responsável, mas acredita que este não quis recebê-lo.


Apesar das dificuldades aparentes, acredita ter melhorado a vida, com orgulho diz ter expulso do local aqueles que bebiam demais e incomodavam no bom andamento das coisas.

Há por ali muitas crianças, porém, lamentavelmente sem freqüentarem a escola. Até ano passado estudavam em Guaraqueçaba, e segundo a diretora, foram todas aprovadas, porém a promessa de escola bilíngüe na comunidade indígena não se concretizou e até este momento, as crianças não tem ido a escola nem recebido ensino na tekoá, o ideal, como acreditamos.

Ilha da Cotinga (2007)


Ilha da Cotinga (2007)

Cerco Grande (2000)

Seguindo pela trilha, em péssimo estado, comprometido pelas freqüentes chuvas ocorridas nos últimos dias, se tem acesso a algumas moradias, observa-se plantação de banana, poucas de cana, algumas também de mandioca; poucos animais como cachorros e algumas galinhas.

Ilha da Cotinga (2007)

Ao perceberem visitas, as famílias, após anuncio do cacique, trazem o pouco artesanato que possuem, esperando vender e assim arrecadar algum dinheiro. Na loja de Guaraqueçaba pouco vendem de seus produtos e no mercado de Paranaguá, onde se tem mais saída, não conseguem chegar. Problema da falta de embarcação.

Ilha da Cotinga (2007)

Numa outra trilha, exatamente subindo o morro do Cerco Grande, chegamos a casa do pai de Valdinei, o Pajé Faustino, que é visinho da OPY, a casa onde todas as noites realizam seus cantos e danças – rituais em louvor ao seu deus Naderu.

Cerco Grande (2000)

Dentro da OPY há um pequeno altar, ao lado um tronco pequeno com sobras de velas, e encostado nas paredes os instrumentos, como o violão, o “popiguá”, “maracá” e o “taquapu”. No fogo central, aceso a esquentar pedaços de ferro, a esposa de Faustino está a queimar pequenas peças de artesanato, com formatos de animais do cotidiano dos Guaranis. Há alguns balaios dependurados na parede, esta feita de estuque.

O Pajé Faustino ainda nos convida a visitá-los no momento de suas rezas e com ele tomar chimarrão, propiciando uma conversa.

A moradia de Valdinei é completamente cercada de bambú, chão batido, parece que dividido em dois cômodos, a entrada com o fogo de chão e o dormitório, ainda que próximo ao fogo houvesse uma “tarimba”, espécie de cama feita apenas com uma madeira como a servir de cama e colchão. Há algumas casas cercadas de madeira e de estuque, como a casa de reza.

Existe algum banheiro construídos recentemente em alvenaria. Também duas caixas d’água, instaladas pela SANEPAR, porém ainda não ligadas as moradias, o que esperam desde meados do ano passado, segundo relata Valdinei.

Para se chegar com mais facilidade, sem precisar percorrer as difíceis trilhas, pode-se atracar num outro porto, pouco mais a frente donde paramos e ter mais facilitado acesso as demais residências, visto que apenas o cacique mora afastado dos demais. Neste porto, pretendem construir a “Casa de Cultura”, onde irão concentrar os artesanatos de toda comunidade e ali receber visitantes.


Ilha da Cotinga (2007)


Mas para tal, como já possuem as madeiras, necessitam de ferramentas como furadeiras, pregos, martelos, serrotes, etc...

Se aos mais jovens existem tais complicações, difícil é a vida de “seu” Francisco (antigo cacique) e sua esposa “dona” Ana, anciãos, um já sem a vista e os dois sem perspectivas de melhores condições de vida para si e para seu povo.

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OBS: as fotografias aqui postadas referen-se a visita na Ilha da Cotinga em Paranaguá, bem como ao Cerco Grande em anos anteriores e na mais recente visita que fizemos e segue descrito.