"Eu considero Guaraqueçaba um pequeno mundo dentro do mundo"
- Padre Mário Di Maria - (12/07/1974 - entrevista ao Jornal Diário do Paraná)

25 de janeiro de 2011

Lenda Guaraqueçabana - parte II / Tangará, o pássaro fandangueiro

“antigamente os caçadores proibiam as crianças de irem no mato ver a dança dos Tangarás. O Tangará é um passarinho bonito, tem o pulo de galho em galho como que se tivesse dançando, e sempre seguindo um líder, que vai na frente; Logo dá a despedida com um canto triste “trrrrchiiii” e todos param de pular. Por ser bonito de ver, as crianças seguiam no mato e certa vez uma criança foi ver a dança dos tangarás no mato, foi indo, foi indo e chegou no inferno. Por isso é proibido de ver".
Conta José Hipólito Muniz.
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Os Tangarás nasceram da desgraça de uma família, “Os Filhos do Chico Santos”, como narra LEITE em “A Dança dos Tangarás”:

“...os filhos do Chico Santos. Que gente pra gosta de dança! Dançavam por nada. Fandangueavam até na roça, interrompendo o trabalho. Batiam os tamancos no chão quase todas as noites. Uma vez, meu senhor, estávamos na Semana Santa! Pois não é que a rapaziada inventou de fazer um fandango? E fez. Dançaram até de manhã. Mas Deus, que vê tudo, castigou os dançarinos. E sabe o fez? Deu a bexiga nos filhos do Chico Santos. E cada um que ia morrendo ia virando passarinho, o Tangarás. E agora andam aí cumprindo o seu fado... O meu avô sabia dessa história, por isso nunca dançamo na quaresma...”.
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Sobre a famosa, bonita e um tanto intrigante “Dança dos Tangarás”, MIRA em “A Dança dos Tangarás II”, a descreve:

“...Em bando de oito a dez, sob o comando de um. Nos momentos de canto, reúnem-se no galho de uma árvore e ao sinal do Tangará diretor que pousa noutro galho fronteiro, iniciam o gorjeio. O maestro modula, em solo, um cântico dobrado, ora terno, ora vibrante, as penas meio alvoroçadas pelo ardor da modulação, a cabecinha esticada, o bico entreaberto e o pescoço a regurgitar-se e, a retrair-se na emissão das notas delicadas que se espalham pelo silêncio da mata. E permanece, assim, dois três minutos...Quando termina o hino rompem os demais em coro. As vozes se reúnem, se combinam, estridulam uniformes, todas as cabecinhas se distendem igualmente para a frente, todos os pescoços tem os mesmos movimentos, todos os bicos desferem o mesmo canto macio, cheio, vivo, sonoro, extasiador. Há um descanso rápido. Os Tangarás saltitam aos pares ou isolados, pelo arvoredo. Eis, porém, que o maestro trila, de novo, e todos acodem celeremente, retomando o seu posto: o bando num galho e o chefe no outro, como a princípio. E, unissonamente, galhardamente, a encantadora e plumosa orquestra irrompe, a um só tempo, numa espécie de bailado, pondo-se o Tangará maestro a saltitar em ida e volta do seu galho para o outro em que estão os companheiros, ao mesmo tempo que estes, sempre a gorjear, pulam, também, uns sobre os outros, de modo que os primeiros vão ficar atrás dos últimos e depois estes atrás dos primeiros. E de longe vêm as últimas vibrações do belíssimo bailado”.
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foto: Direitos reservados / autoria desconhecida

foto: Direitos reservados / autoria desconhecida
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Nas modas de fandango, o Tangará também é lembrado, como cantava a saudosa dona Dorçulina Eiglmeier (In Memoriam), dizendo se tratar de “uma moda em que é feita uma fileira de homens de um lado e de mulheres de outro. Os homens batem os tamancos e vão até o meio encontrando com as mulheres e rodopiam”.

“No domingo bem cedinho / fui na fonte me lavá
de lá vim admirado / de vê a dança do Tangará”.
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REFERÊNCIAS:
LEITE, Ofir. “A dança dos Tangarás I”. IN: “estórias e lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina”, Pg 14-16.
MIRA, Crispim. “A Dança dos Tangarás II”. IN: “estórias e Lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina”, pg 17 e 18.
MUNIZ, José Carlos. Fandango na alma caiçara. Do autor. Inédito.
DEPOIMENTOS:
Dorçulina Fagundes Eiglmeier (In Memorian), José Hipólito Muniz.

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